Texto de Maria Lúcia Garcia Marques
Adriana sentia o bafo da tarde na pele dos seus braços mal cobertos, mas embrulhava-se nele com um conforto e um afecto suave e leve, como se o dia parasse ali, naquela meia-luz requintada e lânguida. E a pouco e pouco, aquilo a que habitualmente chamava cansaço - melhor dito, náusea do quotidiano entre paredes ( porque é preciso viver e viver tem os seus rituais e as suas burocracias) - foi-lhe escorregando dos ombros e a respiração abriu-se-lhe ao cheiro poderoso da terra aberta, mas, levantando os olhos, também ao vôo das aves, essas ingénuas prègadoras da liberdade.
E viu também a glicínia. E devorou, como a abelha louca, o lilás da escadaria dos cachos. E encheu-se dessas lágrimas felizes que escorrem em glorioso pranto, em mágica cascata a esconder o soturno e sinuoso tronco. Cobrem-no, magnânimas, como tufos de seda, na maturidade da cor azulada, mas também na ridente juventude das suas flores ondulando na preguiça da tarde tépida.
E Adriana amou essa inesperada apoteose no ocaso que despontava e desvaneceu-se no seu fulgor devorador e mágico.
Querida Maria Lúcia,
ResponderEliminarQue bonito que é! Todos os textos são belíssimos, mas este... Li-lo já três ou quatro vezes e hei-de vir cá encantar-me novamente!
Um grande beijinho,
Sofia