domingo, 22 de agosto de 2010

A casa assombrada












Descobri-a num pinhal, solitária e pensativa. Cheirava, de longe, a abandono. Ao perto, a lixo húmido e suspeito. Na sua ruína, as janelas continuam porém como olhos fixos e vigilantes e a porta é uma boca aberta em O, como quem chama ou quem escarnece numa gargalhadinha infantil, meio curiosa.


Pelo flanco esquerdo sobe-lhe a escada, nítida mas cautelosa, a bater a uma porta-mistério. Cá fora, num poço entulhado a secura de uma água que se foi há muito. Mas, à direita, majestosos e tutelares, senhoriais guardiões na sua estatura imensa, dois cactos. Intactos e perfilados, protejem decerto um segredo ou um espírito vagabundo que ali se acolhe em noites desabridas. Não esqueci aquela casa e sei que um dia a vida lhe voltará, as janelas brilharão com vidrinhos de diamante e a porta fechar-se-á e deixará de dizer OH!


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